sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sobre a felicidade, aportes, frugalidade, IF e depressão

O que pode ser acrescentado à felicidade do homem que goza de boa saúde, não tem dívidas e está com a consciência limpa? Para alguém nessa condição, todos os acréscimos de fortuna podem ser justificadamente considerados supérfluos; [...] Mas, embora pouco se possa acrescentar a essa condição, muito se pode subtrair dela. (Adam Smith)
Percebo que é muito comum entre diversos membros da blogosfera que buscam a independência financeira uma tendência à depressão. Muitos relatam não estarem felizes com inúmeros aspectos de suas vidas (família, trabalho, relacionamentos afetivos, amizades, saúde etc.).

Muito provavelmente, isso se deve ao fato de sermos muito reflexivos, pensarmos demais sobre tais aspectos. Os adeptos do carpe diem não perdem tempo com reflexões, não se preocupam com o futuro, simplesmente vivem, literalmente "deixam a vida os levar".

O fato de estarmos muito concentrados numa alegria futura, que supostamente virá após atingirmos a IF, abandonarmos a necessidade imperiosa do trabalho, obtermos uma renda passiva de nX nossos gastos mensais, poderia estar nos distanciando da felicidade? Estaria a frugalidade e a busca por aportes impossíveis nos impedindo de gozarmos a felicidade plena, que só pode ser obtida na dádiva que se chama presente?

Inspirando pelo ótimo artigo do colega Gari Advogado sobre o filósofo estóico Marco Aurélio, andei relendo alguns trechos da obra de Sêneca, Sobre a brevidade da vida, e gostaria de compartilhar com vocês algumas passagens, sobre as quais tecerei breves considerações e reflexões.
Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. 
Como estamos aproveitando a vida que nos foi dada? Quanto tempo temos gastado com preocupações infrutíferas, idealizações impossíveis e planejamentos financeiros malucos? 
Ouvirás muitos dizerem: “Aos cinqüenta anos me refugiarei no ócio, aos sessenta estarei livre de meus encargos.” E que fiador tens de uma vida tão longa? E quem garantirá que tudo irá conforme planejas? Não te envergonhas de reservar para ti apenas as sobras da vida e destinar à meditação somente a idade que já não serve mais para nada? Quão tarde começas a viver, quando já é hora de deixar de fazê-lo.  
Desnecessário qualquer comentário adicional sobre essa passagem específica. Vamos em frente.
Faz o cômputo dos dias de tua vida: verás que restaram muito poucos dias para ti mesmo. [...]
Cada um faz precipitar sua vida e padece da ânsia do futuro e de tédio do presente. Mas o que emprega todo o tempo consigo próprio, que ordena cada dia como se fosse uma vida, nem deseja o amanhã, nem o teme.
Seria o pensamento voltado em excesso para o futuro a razão de muitos de nós, aportadores frugais em busca da independência/liberdade financeira, termos essa tendência à depressão? Temos neglicenciado em demasia o presente? Qual a solução? Parar de aportar e virar um carpe?
Conto entre os piores os que nunca estão disponíveis para nada, senão para o vinho e os prazeres sensuais, pois não há ocupação mais vergonhosa. [...]
Todos concordam que um homem ocupado não pode fazer nada bem.
Nada é menos próprio do homem ocupado do que viver, pois não há outra coisa que seja mais difícil de aprender. Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer.

Amigos, eu não tenho respostas. Apenas estava refletindo sobre essas questões nos últimos dias e resolvi compartilhar com vocês, não tenho conclusão alguma, porém tenho a convicção de que me tornando um carpe não serei, nem de longe, mais feliz.

Aproveito para indicar outro ótimo artigo, do nobre Frugal Simples, que trata com maestria sobre o tema aqui abordado.

Bom, é isso, amigos. Desejo a todos um ótimo final de semana! Semana que vem pretendo postar o fechamento do mês e a singela evolução patrimonial desse que vos fala!

Abraços.

12 comentários:

  1. Opa vi que seu perfil é recente, vou te add na minha lista, se puder me add ai também !

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    1. Olá, Stifler. Criei o blog recentemente, mas já acompanho a finansfera há um tempo, sempre leio suas postagens! Vou add sim, ainda faltam outros blogs que eu sigo serem adicionados tbm!

      Obrigado pela visita.

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  2. Sempre me pego refletindo sobre felicidade, tempo, valor. O mais difícil é o tempo. Nunca pára e cada vez morremos aos poucos. Pessoas que brigam por bobeiras, outras que esquecem de grandes virtudes como companheirismo, humildade, respeito e EMPATIA. abraço

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    1. Olá, Gari. Estamos nesse mundo como eternos aprendizes, podemos aprender com os próprios erros/acertos, com os erros/acertos alheios ou através das reflexões!

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  3. Realmente, a felicidade e a IF podem ser muitas vezes excludentes, quando não se tem a correta ponderação nas coisas da vida.

    Creio que o segredo de tudo está em encontrar um equilíbrio entre o prazer de curto, médio e longo prazo, saber aproveitar ao máximo o presente, contudo, de modo equilibrado, com um planejamento futuro, mesmo porque de nada adianta aproveitar hoje sem uma perspectiva de futuro, afinal um dia o amanhã será o presente, e não podemos deixar que vivamos arrependidos no futuro.

    Outro ponto que vejo ser de enorme valia para uma vida boa e equilibrada é a valorização e o aprendizado daquilo que é simples, do que não se adquire com o dinheiro ou com muito dinheiro. Saber aproveitar eventos gratuitos, passeios com baixo custo ou custo zero, uma conversa descontraída num local simples, como um boteco de bairro, tempo com seus familiares, aprender a cozinhar e sentir prazer em transformar coisas simples em saborosos pratos, tocar um instrumento ou ler um livro, observar a natureza onde quer que se esteja, e, principalmente, aprender com aqueles que um dia pensaram sobre a vida e suas contradições e dilemas mais profundos, como os filósofos antigos...

    Enfim, acredito que o segredo para a felicidade não está naquilo que fazemos ou temos, mas em como fazemos e o que daquilo que temos e somos.

    Perdão pelas divagações, mas esse tema eh de extrema importância para os blogueiros de finanças, mesmo porque a IF não pode ser um fim em si mesmo, mas um caminho para concretização de nossos próprios fins mais superiores.

    Abraço Frugal!

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    1. Obrigado pela visita e pela ótima reflexão!

      Concordo com tudo que vc falou. Encontrar esse ponto de equilíbrio entre o planejamento financeiro e a felicidade de curto prazo é essencial. Percebo alguns colegas muito focados no longo prazo e perdendo a única oportunidade de serem felizes (agora).

      Volte sempre, amigo!

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  4. Excelente post!

    Para lembrar:

    "o inverno está chegando".

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  5. Olá concursado.

    Ótimo post. Sucinto e objetivo com boas reflexões.

    Não procuro e nunca procurei uma independência financeira, apenas segurança financeira para momentos de dificuldade.

    Acredito que muitos blogueiros entraram na busca pela IF como válvula de escape de uma vida insatisfatória. Parece que a IF será uma espécie de salvação, parecido com a promessa religiosa do paraíso.

    Isso tende a gerar um sacrifício excessivo do presente e o aumemto de episódios de frustração (depressão).

    Abraço.

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  6. Assim como voce ja reparei em várias pessoas na Blogsfera que realmente pensam que a felicidade só chegara quando chegar o " Grande dia" e que até la viveram vegetando , infelizes e depressivos.

    Eu acredito que tenho uma opniao formada sobre isso. E se chama EQUILIBRIO , voce tem sim que almejar grandes sonhos e cumprir metas que exigem extrema disciplina , mas isso não pode privar de voce viver o Presente.

    Paulo vieira autor do Livro " o Poder da Ação" diz varias vezes em seus livros que o ideal não é aportar 50% do salario e sim 30% , 10% vc gastar com vc mesmo e outros 10 voce doar..

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    1. Olá, FC. Belas palavras. Concordo contigo. Sobre a doação, se eu considerar a ajuda que dou mensalmente a parentes passa desses 10% com folga.

      Abraço!

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  7. Olá, IC!
    Ótimo post, Muito do quê li aqui de certa forma me tocou (Ui!) e me vi na mesma situação, acredito que todos nós estamos tão afundados em nossas realidades que de certa forma projetar sobre o futuro muita das vezes é o que nos mantém firme na caminhada, pois, sem ela acabaríamos por desistir no meio e nos decepcionar com o agora. De qualquer modo, tudo o que passamos seja ele bom ou mal, nos é ensinamento.
    A única coisa que nos cabe fazer é aprender com a vida e como dito no próprio post. Aprender a morrer.

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